O que há aqui?

Há o mundo. (Há, claro, vida noutros planetas como incontestável possibilidade teórica).

Há a comunidade internacional. (E há talvez ainda uma coisa difusa e irritante como um número de telefone abandonado no bolso).

Há a Cidade onde viveis, vós, aqueles que viveis na cidade em que dizeis viver. Mas também há outras cidades assim: amarelas, laranja, brancas, azuis, violeta, etc. Atiram-se bolas de água, palavras duras, incidentes diplomáticos. E tecnologia quente ou fria de extermínio, se puder ser. Sobem as vendas do papel e da nicotina: resolve-se a questão da participação: jogadores de poker rematam, alternadamente, com a tese, ou o seu contrário, ou qualquer outra coisa que, parecendo a solução, é ela própria o jogo.

No espaço entre cidades há legendas a dizer Aqui há leões. Há buracos ferozes e indícios de larvas.

Sabe-se isto, respeitam-se as mundividências do outro, há abertura e por aí fora... mas não se vai falar com uma negação, não se relata um buraco. Vai-se dar voz a uma legenda que foi convenientemente determinada?

Tudo o que seja novidade, um outro olhar, sonoridades, pesquisa exploratória íntima, visão marcante e distintiva interessa, i. e, corresponde a interesses. Apenas se exige uma única condição de rigor:
  1. domínio da técnica
  2. lograr manter a audiência com o lábio inferior ligeiramente rebaixado por longo período
  3. elementar asseio pessoal (ou, em alternativa, uma estética do desleixo)
  4. e um nome e razão de ser absolutamente identificáveis no enquadramento dado.

...

Acordamos então com a notícia, a voz segura, o ataque terrorista no afeganistão; naquele país onde vivem os civis, os radicais, as ong’s e as forças internacionais de manutenção. No caminho para o trabalho podemos optar pela A5 ou pela B19. Nesta última, ouviremos repetida a mesmíssima notícia, agora mais despertos, enfim. Não fora o novo tema sonoro, seguramente o mesmo conteúdo do ano passado...

Se, contudo, viajamos suavemente, teremos escolhido a A5. Ouviremos então a notícia desenvolvida , o acumulado, o saldo, a compensação, o gráfico, comentados por um especialista que nos assegura que

estamos a vencer

"Estendal" a partir de uma ideia de Joana Abril


Texto "jornal-tijolo" de Joana Abril